domingo, 13 de fevereiro de 2011

(Des)Amor Eterno

Começo o papo deixando claro: não tenho a pretensão de, em minhas postagens, fazer análise alguma das músicas que mencionarei. Todas as citadas são motivo de inspiração para meus textos, apenas. O primeiro post não poderia ser diferente: sim, será ele, Chico Buarque - este que sempre canta no radinho à pilha deste boteco! A canção inspiradora foi "Eu te Amo", do ano de 1980, composta por Chico, na letra, e Jobim, na melodia. Pede mais uma e vam'bora ler!
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Ela já havia vivido algumas últimas vezes. A última vez que viu o pai, a última vez que esteve em Minas, a última vez que bebeu vinho... Eram últimas vezes, porém, que poderiam deixar de ser, bastava que ela quisesse. Esta, contudo, ela imaginou ser a última mesmo, sem volta.
Em meio a um cotidiano de muitos afazeres, datas a cumprir, reservou um tempo para encontrá-lo. Final de semana, não: tinha de aproveitá-lo - santo hedonismo! Domingo, pode ser. Ela considera tal dia como início de semana e, convenhamos, não está errada.
À tarde daquele dia monótono, então, estavam juntos no lugar marcado. Ele chegara dez minutos antes; ela, vinte atrasada. Como bom cavalheiro que era, permitiu que ela começasse. Em meio a um discurso gravado, premeditado, ela se perdia e dava voltas para falar o que realmente queria. Ele, já sabendo do que se tratava, olhava no relógio insistentemente, pensando se já não era hora de partir.
Aquele amor que outrora parecia eterno, agora se mostrava mais frágil que uma pétala de rosa, e ela havia se esquecido de que nada é tão bom quanto parece à primeira vista. Tantos haviam sido os bons momentos, as comemorações de aniversários, os carinhos, as loucuras, os atos de cumplicidade... Fato era que tais números já não mais importavam e a qualidade do romance já estava comprometida. Não havia mais flores, e os espinhos há tempos estavam por aparecer.
Humanos que somos, temos medo de qualquer fim. Ela sabia que tinha chegado a hora; ele tinha certeza absoluta de que não dava mais. Ao mesmo tempo, porém, ele jurava ser capaz de mudar o rumo desta história, enquanto ela estava determinada a não se arrepender de sua próxima atitude.
Depois de tentar inúmeras vezes falar o que pretendia, sem deixar que ele expressasse o que entendia, ela aquietou. Ele, já meio irritado, concordou. Sabe-se lá com o quê, já que ela nada havia dito de concreto. Neste caso, meias palavras bastaram e tudo estava completamente entendido: "Terminamos", pensaram juntos, sem dizer uma só palavra.
Em outros términos de conversa, a postura normal do casal seria compartilhar um beijo. Com uma troca de olhares repleta de significados, porém, abraçaram-se. Estavam, assim, por selar o fim de um amor que parecia eterno. Não fossem os erros, os descuidos, as faltas de reparo, o desleixo, a incompreensão... Ambos se lamentavam. Não fosse tudo aquilo que termina com um grande amor...

Um comentário:

Yasmin disse...

pessoas com inteligência,garra e determinação como você,vão longe!